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DISCURSO DE SAUDAÇÃO DO PRESIDENTE DOUTOR JOSÉ MÁRCIOLEITE AO PROF. DOUTOR JOSÉ BONIFACIO BARBOSA AO SEREMPOSSADO NA CADEIRA Nº 33 DA AMM, PATRONEADA, POR BENEDITO CLEMENTINO DE SIQUEIRAMOURA, NA AMM.

Saudação aos presentes...

Hoje empossamos neste sodalício, o médico cardiologista José Bonifácio Barbosa, que

passa a integrar a nossa Confraria, onde já se encontram os ilustres Confradese médicos

cardiologistas Paulo de Tarso Brandão, Haroldo Silva e Souza, José Benedito Buhatem

e José Albuquerque de Figueiredo Neto.

A história da cardiologia está relacionada ao conhecimento da circulação do sangue. No

Egito em 3000 AC;Na China em 1200 AC.Na Grécia nasceu a medicina da observação,

onde Hipócrates, o pai da Medicina (em 500 AC), ensinava em Cós que o coração tem

cavidades, umas com sangue escuro e outras vermelho, que entre as cavidades existem

válvulas, as atrioventriculares; Os continuadores de Alexandria marcam avanços

extraordinários no século seguinte. Herófilo põe seu nome na artéria pulmonar,

identifica a sístole e diástole, estuda o pulso e fixa quatro caracteres fundamentais

(frequência, ritmo, amplitude e força), sendo o primeiro a estudar as arritmias. Um fiel

seguidor da medicina grega, no século II , manteve em Roma a sua tradição : Cláudio

Galeno. Em dissecções em animais descreve a anatomia semelhante à humana. Após

isso, quatorze séculos se passaram, até a vinda de Leonardo da Vinci, que dissecou

trinta cadáveres e descreveu o que vira, descrevendo em desenhos e notas o pericárdio e

endocárdio, válvulas e músculos papilares.Identificou o coração como uma bomba, na

forma de um vaso, feito de músculo denso, "músculo de força, mais potente que

nenhum outro músculo". No século XVI Andrea Vesalius em seu livro De

HumaniCorporis Fabrica, de 1543, é a pedra fundamental da medicina moderna. É o

primeiro tratado de anatomia do homem com dados integralmente obtidos do cadáver, e

não de animais. O livro de Vesalius é o primeiro pilar em que se sustenta a cardiologia.

Um século mais tarde foi a hora de Sir Willian Harvey, ao descobrir e demonstrar a

circulação do sangue no século XVII. Publicou em 1628 um pequeno livro,

ExcercitatioAnatomica De Motu Cordis, onde expõe e prova sua doutrina da circulação

de sangue. Por isso é considerado o pai da fisiologia, como Vesalius o pai da anatomia.

Junto aos grandes anatomistas vieram os primeiros semiólogos, como Heberden, que fez

a descrição magistral da angina de peito e sua ligação ao infarto do miocárdio.Já no

século XIX , século dos grandes clínicos, como René TheophileLaennec. Ele inventou a

auscultação. Sua obra é a invenção do estetoscópio. Em seu livro, Traité de

l"AuscultationMédiate, Laennec descreve todos os ruidos pulmonares, cardiacos e

vasculares da ausculta. Ainda como contribuição clínica, foi avaliada a medida da

pressão arterial com o esfigmomanômetro de Von Basch, corrigido por Potain, sendo o

primeiro a assinalar a existência da hipertensão arterial.

No Brasil, no início do século XX havia, em Medicina, somente quatro áreas básicas:

Clínica, Obstetrícia, Cirurgia e Pediatria. Na década de 20, a Cardiologia, em virtude do

seu desenvolvimento e complexidade crescente, separou-se, em definitivo, da Clínica

Médica, passando a constituir especialidade autônoma e bem definida.

A medicina cardiovascular no País começou a registrar importantes avanços no fim da

década de 1950, no Instituto do Coração (INCOR).Entre as inovações criadas no


instituto estão equipamentos de imagens que substituem exames invasivos

desenvolvimento de vacinas como a que previne a febre reumática --, e pesquisas com

uso de células tronco para recuperação de tecido cardíaco.

Hoje contamos no Brasil, com o que há de mais moderno no mundo em tecnologia de

ponta para o diagnóstico e tratamento das cardiopatias, como:

A revascularização miocárdica; correção das cardiopatias congênitas; cirurgias de

válvulas cardíacas;correção dos aneurismas e dissecções da aorta; cirurgia de fibrilação

atrial;corações artificiais;implantes de marcapasso e desfibriladores; transplantes de

coração; cirurgia de revascularização do miocárdio sem o uso da circulação extra-

corpórea e procedimentos minimamente invasivos com o uso de robôs.

A partir de hoje, no entanto Doutor José Bonifácio Barbosa, com seu ingresso nesta

Casa, o Confrade passará a conviver com os dois mundos do Estado da Arte da

Cardiologia: O mundo da ciência médica e o mundo da literatura e da história da

medicina, pois o filósofo Goethe (1749-1832) nos deixou o legado de que “nada sabe de

sua arte aquele que lhe desconhece a história”. E essa tem sido a missão da Academia

Maranhense de Medicina em seus 29 anos de existência. Lutar pela manutenção dos

postulados éticos e médicos da medicina e pela preservação de sua história,

reconhecendo os modernos avanços técnico-científicos, mas valorizando o passado

sobre os quais esses avanços foram erguidos.

Encerro minhas palavras homenageando o Doutor José Bonifácio Barbosa e os

cardiologistas desta casa, com esta citação de Rui Barbosa, em Oração aos Moços, para

quem"o coração não é tão frívolo,tão exterior, tão carnal quanto se cuida. Há, nele, mais

que umassombro fisiológico: um prodígio moral. É o órgão da fé, o órgãoda esperança,

o órgão do ideal. Vê, por isso, com os olhos d’alma,o que não vêem os do corpo. Vê ao

longe, vê em ausência, vê noinvisível, e até no infinito vê. Onde pára o cérebro de ver,

outorgou−lhe o Senhor que ainda veja.Metei a mão no seio, e aí o sentireis com a sua

segunda vista.E, assim, está o coração, cada ano, cada dia, cada hora, sempre

alimentado em contemplar o quenão vê, por ter em dote dos céus a preexcelência de ver,

ouvir epalpar o que os olhos não divisam, os ouvidos não escutam, e o tato não

sente.Para o coração, pois, não há passado, nem futuro, nem ausência.Ausência,

pretérito e porvir, tudo lhe é atualidade, tudo presença, mas presença animada e vivente,

palpitante e criadora, neste regaçointerior, onde os mortos renascem, pré-nascem os

vindoiros, e osdistanciados se ajuntam, ao influxo de um talismã, pelo qual,

nessemágico microcosmo de maravilhas, encerrado na breve arca de umpeito humano,

cabe, em evocações de cada instante, a humanidadetoda e a mesma eternidade".

Seja bem vindo Dr. José Bonifácio Barbosa. Muito Obrigado!

 
 
 

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